Crianças indígenas são agredidas com chicote após suspeita de furto em Pontal do Araguaia
Funai e outros órgãos prestam auxílio à família; mãe pede apuração rigorosa dos fatos
Marcelo Borges
Semana7
Quatro crianças indígenas Xavante, com idade entre 5 e 9 anos, foram agredidas com um chicote de corrente após serem apontadas como suspeitas de furtar pão com margarina em uma oficina em Pontal do Araguaia - MT. As agressões aconteceram na última sexta-feira (06) e teriam sido cometidas pelo dono do estabelecimento e o filho dele.
A mãe de duas crianças envolvidas no caso, a qual não será identificada para preservar a segurança dos menores, disse em entrevista ao Semana7 que percebeu as agressões quando os filhos chegaram em casa e tiraram a roupa para tomar banho. “Eu avisei meu marido e meu sogro. Fomos para oficina para mostrar os machucados e perguntar ao rapaz o porquê ele fez aquilo sem nos avisar antes”, disse a mulher.
Segundo ela, o proprietário do estabelecimento negou as agressões. Diante do impasse, a família acionou a Polícia Militar para pedir ajuda. “Tinha muita gente lá. A polícia não se movimentou nesta questão, falou que precisávamos ir embora e que se não fôssemos iria prender todos nós”, afirmou.
Na casa onde os indígenas vivem moram cerca de 25 pessoas, todas Xavante, pertencentes à mesma família. O local já é assistido pela Secretaria de Assistência Social do município. Depois do ocorrido, uma psicóloga e uma assistente social foram até a residência para atender as crianças e os familiares.
Elieide Dias Trindade, conselheira tutelar da cidade, contou que tomou conhecimento das agressões somente na manhã do sábado (07). “Eu recebi o vídeo em meu celular particular [...] como essa pessoa ajuda bastante os indígenas aqui em Pontal, eu passei os encaminhamentos para ela. Disse que como se trata de crime, tem que ir na delegacia fazer um B.O. e posteriormente fazer o exame de corpo de delito”, disse.
Ela ainda explicou que o Conselho Tutelar só acompanha esse tipo de situação quando não se tem nenhum responsável legal e que esse não era o caso da família, que tinha pais, avós e tios, todos na casa.
As crianças foram submetidas a exame de corpo de delito e o boletim de ocorrência foi registrado na delegacia. Cabe agora ao delegado investigar o ocorrido e, diante dos fatos, denunciar o proprietário da oficina ao Ministério Público - MP ou arquivar o caso.
O servidor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas - Funai em Barra do Garças, Carlos Henrique da Silva, recebeu na manhã desta segunda-feira (09) a mãe de duas das crianças para prestar auxílio à família.
Ele explicou quais procedimentos o órgão vai adotar neste momento para amparar os indígenas. “Perguntei a ela agora ‘Você se sente segura onde você está? Você quer que a Funai ajude você a retornar para a aldeia? ou alguma medida de proteção?’ Ela acabou de me dizer que não, quer permanecer no local, mas que a Funai exija da Polícia ou MP uma proteção, isso a gente vai fazer”, ressaltou o indigenista.
Carlos explicou que vai oficiar comunicando ainda hoje o Ministério Público e a Procuradoria da Funai em Brasília. “Quero que verifiquem se dentro desse caso aqui penal há questão de indenizações civis, questão dos danos, se a gente pode entrar [judicialmente] ou se é a Defensoria Pública”, afirmou.
O caso levanta questões urgentes sobre preconceito, vulnerabilidade social e os direitos das crianças indígenas no contexto urbano. A família exige justiça e pede atenção das autoridades competentes para a apuração rigorosa dos fatos e a responsabilização dos envolvidos.
Organizações indígenas e defensoras dos direitos humanos foram informadas e estão acompanhando a situação. Uma manifestação em defesa das crianças indígenas está sendo organizada em Pontal do Araguaia para esta semana, mas ainda segue sem data e horário definidos.